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O mistério de Fawcett, que inspirou Indiana Jones e sumiu na Serra do Roncador

O explorador britânico desapareceu misteriosamente quando buscava encontrar a Cidade Perdida Z em 1925


Parece até um filme sem pé nem cabeça. Imagine juntar em um mesmo roteiro, as "Minas do Rei Salomão", o repórter Tintim das histórias em quadrinhos, o sertanista brasileiro Orlando Villas-Bôas e o empresário Assis Chateaubriand.

Percy Harrison Fawcett, uma mistura de Sherlock Holmes e Indiana Jones, é o protagonista de um quebra-cabeças histórico sobre esse explorador inglês que desapareceu, provavelmente em Mato Grosso, em busca da "Cidade Perdida de Z", uma espécie de Eldorado brasileiro.

Após três meses de preparo, no dia 20 de abril de 1925, Fawcett, seu filho Jack e um amigo desse partiram de Cuiabá para nunca mais serem localizados.

Uns dizem que o trio teria encontrado a passagem para outras dimensões; outros afirmam que os três teriam sido devorados por índios locais. Chegou-se até a especular que Fawcett teria vivido mais de três décadas "numa cidade subterrânea, escondida sob a Serra do Roncador".

Terra de mistérios

Destino de aventureiros e esotéricos, a região tem até um aeroporto para extraterrestres, localizado em Barra do Garças, cidade mato-grossense que abriga também uma estátua em homenagem a Fawcett.

"Não há nada mais sólido que as lendas. Fawcett se identificou com uma das lendas matrizes da Humanidade: a da Cidade Abandonada", analisa o jornalista Antonio Callado no seu livro-reportagem "Esqueleto na Lagoa Verde", onde descreveu a participação na expedição de 1952, em busca de rastros dos desaparecidos.

O explorador inglês até tentou apoio financeiro do então presidente brasileiro Epitácio Pessoa, mas desistiria com a insistente ideia de ser acompanhado por uma comitiva brasileira, sugerida pelo (desconfiado) Cândido Rondon.


Mais do que cruzar portais para outras dimensões, Fawcett parecia querer, sozinho e do seu jeito, encontrar ouro e obter fama internacional. Para o correspondente Larry Rohter, autor da biografia do militar brasileiro, orgulho, excesso de confiança e um certo amadorismo em terras inexploradas seriam alguns dos motivos do fracasso da última viagem de Fawcett,

Indiana Jones no Brasil

No aniversário da primeira década do caso, em 1935, Fawcett foi homenageado pelo cartunista belga Hergé, em "O Ídolo Roubado" da coleção "As aventuras de Tintim", onde o repórter das HQs encontra um explorador que teria deixado a civilização para viver entre os índios, em uma referência a Fawcett.

Percy Harrison Fawcett inspiraria também outro Harrison, o ator Harrison Ford. "Com seu inseparável chapéu Stetson, uniforme cáqui e botas longas", como descreve Hermes Leal, Fawcett foi inspiração para a criação do personagem Indiana Jones, franquia de aventura criada pela dupla George Lucas e Steven Spielberg.


De acordo com outro biógrafo do coronel, David Grann, a primeira inspiração foi no romance "Indiana Jones e os Sete Véus", de 1991, em que o arqueólogo procura Fawcett.

A busca seria a empreitada derradeira do explorador. A última, mas não a única.

Ceilão

Tudo teria começado com uma viagem ao atual Sri Lanka como oficial da Artilharia Real britânica, onde se interessou por arqueologia (olha o Indiana Jones aí nascendo).

Foi ali que Fawcett descobriria misteriosas inscrições em uma rocha que, anos mais tarde, ele mesmo estabeleceria relações com o Documento 512, um mapa de 1754 de uma Cidade Perdida, guardado na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.

"O manuscrito é considerado o único mapa conhecido de uma cidade perdida no centro do Brasil e sua existência vem, ao longo dos anos, motivando inúmeras pesquisas", descreve a Fundação Biblioteca Nacional.


Ainda de acordo com a BN, nas décadas seguintes, o documento seria inspiração para obras como "As Minas de Prata", de José de Alencar, e "As Minas do Rei Salomão", clássico de Rider Haggard.

Aliás, Fawcett receberia das mãos de Haggard, cujo filho havia morado no Mato Grosso, uma misteriosa estatueta de basalto com letras desconhecidas.

Na mente fértil do coronel, aquela era uma espécie de chave de entrada para a Atlântida brasileira. Seus compromissos militares levariam Fawcett a países como o Marrocos, onde atuou como espião do serviço secreto inglês, e Malta, arquipélago europeu que ensinaria técnicas de topografia para o aventureiro.

América do Sul

Antes de desaparecer, o continente já não era novidade para Fawcett que, no início do século passado, já andava por aqui pela primeira vez para demarcação de fronteiras entre o Peru e a Bolívia, a convite do Royal Geographical Institute.


Entre 1906 e 1924, foram sete viagens exploratórias na América do Sul, incluindo passagens por Corumbá, no Mato Grosso do Sul, e Rio Verde, "lugar onde ninguém entrara antes", segundo Hermes Leal.

Como lembra o jornalista, as viagens de Fawcett eram muitas vezes marcadas por perrengues, como a descida do Rio Acre, onde o coronel encontraria barreiras naturais como 120 corredeiras e se alimentaria de macacos; e redemoinhos em rios da Bolívia que tragavam "embarcações inteiras, incluindo a tripulação".

Em uma de suas últimas notícias, antes de desaparecer no Brasil, Fawcett pedia para a família não enviar nenhum tipo de resgate, em caso de fracasso da expedição. Nas décadas seguintes, a imprensa mundial faria, justamente, o contrário.

Em busca de Fawcett

Seu desaparecimento foi uma fonte inesgotável de histórias que produziria uma infinidade de notícias. Três anos depois de seu desaparecimento, se assistiria à uma corrida pelo paradeiro de Fawcett, em empreitadas como a Expedição Dyott com o caçula Brian Fawcett, em 1928; e a viagem sensacionalista de Edmar Morel.


Financiada pelo empresário Assis Chateaubriand, em 1943, a viagem promovia o encontro do repórter com Dulipé, o "índio loiro de olhos azuis" que diziam, equivocadamente, ser o filho do primogênito Jack Fawcett com uma indígena.

A viagem de repercussão internacional garantiu a Morel uma entrevista com Izarari, um Kalaparo que confessaria ter matado Fawcett, embora o caso nunca tenha sido comprovado.

A ossada de Fawcett?

Em 1952, Chatô financiaria também a viagem de Antonio Callado ao Xingu, onde Orlando Villas-Bôas afirmava ter encontrado a ossada de Fawcett. Um ano antes, próximo a um afluente do Rio Xingu, Villas-Bôas fora convencido por um Kalapalo que a ossada que se encontrava debaixo de uma árvore, próximo ao Rio Culuene, pertencia a Fawcett.

Mas análises feitas por antropólogos do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, e pelo Royal Anthropological Institute, em Londres, confirmavam que aqueles ossos eram de outra pessoa.


Brian, o filho mais novo de Fawcett, voltaria ao Brasil, em 1955, para uma última tentativa de encontrar, ao menos, seu irmão mais velho, mas tudo "eram cinzas bem frias", como descreveu Callado na época.

Para o biógrafo Hermes Leal, a corrida pelos restos mortais do coronel acabaria sendo "mais importante que a própria cidade que procurava".

David Grann, outro escritor que também se debruçou sobre a história de Fawcett, acredita que o explorador ganhou fama "não pelo que revelou ao mundo, mas pelo que escondera".


Nem as diversas cartas enviadas à esposa Nina escapariam dos segredos e das imprecisões de Fawcett, que costumava dar coordenadas geográficas incorretas para não ser encontrado (nem aqui nem em qualquer outro mundo).

Fawcett aprendeu a desfazer as próprias pegadas, mas não conseguiu fazer a gente esquecer a sua história (inventada ou não).

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